quinta-feira, 10 de março de 2016

O Capitão Veneno I Pedro Antonio de Alarcón

O Capitão Veneno
Pedro Antonio de Alarcón

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8833-03-7

Edição: Fevereiro de 2016

Preço: 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm [brochado]
Número de páginas: 128


Alarcón em estado de graça.


«— Tem Vossa Excelência, senhora condessa, o mau destino de albergar em sua casa um dos homens mais intrincados e inconvenientes que Deus pôs no mundo. Não direi que me pareça um completo demónio; mas que é necessário paciência de santo ou gostarmos dele como eu gosto, por lei natural e pouca sorte, para aguentar as suas impertinências, ferocidades e loucuras. Bastar-lhe-á saber que as pessoas frívolas e pouco assustadiças, com quem ele se reúne no Casino e nos cafés, puseram-lhe o cognome de Capitão Veneno ao ver que está sempre com um humor de basilisco e disposto, por dá cá aquela palha, a que todo o bicho-careta lhe parta a cabeça! Preciso desde já de advertir Vossa Excelência, para sua tranquilidade pessoal e garantia de segurança da sua família, que é casto e homem de honra e vergonha, não só incapaz de ofender o pudor de qualquer senhora, mas excessivamente insociável e arisco perante o belo sexo.» [Pedro Antonio de Alarcón]


Pedro Antonio de Alarcón nasceu a 10 de Março de 1833, em Guadix, Espanha. Em 1847 muda-se para Granada para iniciar os seus estudos universitários, mas as dificuldades financeiras da família levam-no a regressar à sua cidade natal. Embora não tivesse vocação para clérigo, a sua estada num seminário inicia-o nas lides literárias, levando-o a escrever, entre 1848 e 1849, quatro obras para teatro, que revelaram a sua criatividade e capacidade efabulatória e romântica. Em 1853 decide abandonar a via eclesiástica e rumar para Cádiz, onde virá a dirigir a revista literária El Eco de Occidente, onde incluiu os seus primeiros contos. Em 1853 funda um jornal anticlerical e antimilitarista, que chega a alcançar grande popularidade. Em 1854 encabeça o movimento liberal em Granada, encontrando-se no período mais romântico da sua vida. Em 1859 ingressa voluntariamente no exército e escreve uma série de crónicas sobre cenários de guerra que foram compiladas no livro Diario de um Testigo de La Guerra de África. Em 1865 casa-se e dez anos mais tarde é eleito membro da Real Academia Espanhola. Um derrame cerebral provoca-lhe a morte, a 19 de Julho de 1891.

Dona Guidinha do Poço I Manoel de Oliveira Paiva

Dona Guidinha do Poço
Manoel de Oliveira Paiva

Apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8566-64-5

Edição: Fevereiro de 2016

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm [brochado]
Número de páginas: 224



A acidez de um fruto verde.
Uma fascinante aventura verbal.


Dona Guidinha do Poço […] recuperava nos seus traços gerais um caso que nos primeiros anos da década de 1850 perturbara a placidez de Quixeramobim (uma vila com este nome índio da tribo dos quixarés, a cerca de duzentos quilómetros de Fortaleza). Nessas terras áridas e sujeitas a secas prolongadas, a fazendeira Marica Lessa respondera em tribunal pelo assassínio do seu marido, o coronel Domingos d’Abreu e Vasconcelos, porque se tinha tomado de amores por Senhorinho Pereira, sobrinho do seu marido, e resolvera contratar um jagunço para desafogar o caminho que levantava obstáculos à sua paixão. Fora condenada a muitos anos de cárcere passados na cadeia pública de Fortaleza, e depois de sair em liberdade vagueara enlouquecida e indigente pelas ruas da cidade.
Na história de Manoel de Oliveira Paiva, a fazendeira é Dona Margarida Reginaldo de Oliveira Barros, a mulher bravia e apaixonada do Poço da Moita […]. [Aníbal Fernandes]

Manoel de Oliveira Paiva [Ceará, 1861-Ceará, 1892] começa a sua actividade literária enquanto estuda na Escola Militar no Rio de Janeiro, fundando nessa altura a revista A Cruzada, onde publicou o seu folhetim Tal Filha, Tal Esposa. No entanto, dois anos mais tarde, tem de abandonar a Escola Militar por sofrer de tuberculose. Regressa então ao Ceará onde, enquanto jornalista, luta pelo abolicionismo. Paralelamente, intensifica a produção literária através de contos, crónicas e sonetos. Em 1889 é publicado em folhetins no jornal Libertador o seu romance de estreia, A Afilhada, e, três anos mais tarde, deixa pronto um novo romance, Dona Guidinha do Poço, que contudo só viria a ser publicado em 1952. Esta obra é considerada um dos mais marcantes romances do naturalismo brasileiro.

Rui Chafes: Sob a Pele - conversas com Sara Antónia Matos


Rui Chafes: Sob a Pele
conversas com Sara Antónia Matos
Rui Chafes, Sara Antónia Matos

Apresentação de Sara Antónia Matos

ISBN: 978-989-8833-00-6

Edição: Fevereiro de 2016

Preço: euros 11,32 euros | PVP: 12 euros
Formato: 12 x 17 cm [brochado]
Número de páginas: 192

[ Em colaboração com o Atelier-Museu Júlio Pomar ]


«[…] No nosso mundo actual, tudo é horizontal, tudo está ao mesmo nível e tem o mesmo valor. Os valores são todos iguais, não há hierarquias, os conhecimentos não são transmitidos dos mais velhos para os mais novos: as pessoas não olham para cima, olham para o lado, logo, nunca aprendem, só copiam.
Interessa-me mais uma ética samurai, corajosa e vertical, determinada, radical, consequente até ao fim. Gosto de pessoas (e de artistas) verticais, que pensam e agem desta maneira. Talvez esteja a falar dos últimos samurais.»

«A palavra pode ter um poder conciliador ou mortal, um poder redentor ou destrutivo. Uma palavra pode salvar uma pessoa ou aniquilá-la. Todos nós já tivemos experiências dessas, momentos em que alguém nos disse alguma coisa que nos levantou ou, pelo contrário, arruinou. “Diz uma só palavra e seremos salvos…”».

«Eu acredito que nada que um artista diga tem demasiada importância face à sua obra, a obra deve valer por si. Ela fala e transporta uma voz mais poderosa do que as suas pobres palavras. Só a obra tem uma linguagem auto-suficiente, própria, interna, o resto surge como acessório. O que não significa que não haja um complemento indispensável à obra que passa pelo discurso e pela tentativa de produção de pensamento. Não é só o objecto que conta, é importante que exista um corpo de ideias e um discurso por detrás, a acompanhar, a sustentar ou a fundamentar a obra, e que a torne diferente dos outros objectos e artefactos comuns.» [Rui Chafes]


Rui Chafes nasceu em Lisboa, em 1966. Formou-se em Escultura na ESBAL, em 1989, seguindo depois para Dusseldórfia, onde frequentou a Kunstakademie, sob a direcção do artista alemão Gerhard Merz. Expôs pela primeira vez individualmente em Lisboa (1986) numa exposição intitulada Pássaro Ofendido. Sonho e Morte, Centro Cultural de Belém, Lisboa (1993). Würzburg Bolton Landing (CAM/FCG), Lisboa (1995) e Durante o Fim, Sintra Museu de Arte Moderna, Palácio Nacional da Pena, Sintra (2000), são algumas das suas exposições mais importantes. Publicou vários livros (Würzburg Bolton Landing, Durante o Fim, O Silêncio de…), escolheu e traduziu Fragmentos de Novalis. Vencedor do Prémio Pessoa 2015.

Encáusticas I João Queiroz


Encáusticas
João Queiroz

Texto de Maria Filomena Molder

Edição bilingue: português-inglês

ISBN: 978-989-8834-08-9

Edição: Fevereiro de 2016

Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm
Número de páginas: 62


[ Em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão (Ala da Frente) ]


Este livro foi publicado por ocasião da exposição João Queiroz – Encáusticas, com curadoria de António Gonçalves, realizada na Galeria Ala da Frente, em Vila Nova de Famalicão, de 6 de Fevereiro a 21 de Maio de 2016.


Encáusticas, é preciso saber do que se trata. Vamos ao latim: encaustum, i, n. 1. Pintura encáustica (feita com cera, cores e fogo). 2. Tinta de púrpura de que os imperadores se serviam, para assinarem. A etimologia grega ainda calha melhor, pois o mesmo verbo e o mesmo substantivo servem para falar tanto de uma chaga provocada pelo fogo, como de uma pintura feita com cera que foi ao lume. Sempre nos admiramos com o mais evidente, isso que sempre pressentimos, i.e., que entre a pele, a ferida, a mancha, o desenho, a pintura, os contágios não param de se multiplicar. Quase se pode dizer, contra todos os idiotas de serviço, que, enquanto o leite se soltar do peito das mulheres, alagando as blusas, e o menino bolçar, soberanamente satisfeito, enquanto a criança sujar com lama as mãos, o rosto e o bibe, e a nossa pele for ferida, a pintura há-de existir. Lembre-se que ornamento e lepra estão, na origem mais antiga conhecida por nós, guardadas lado a lado, sem hierarquia, na mesma palavra que deu pintura em português. A relação entre os dois sentidos é um travo na boca. [Maria Filomena Molder]


João Queiroz nasceu em Lisboa em 1957. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1984. Entre 1989 e 2002 leccionou Desenho, Pintura e Teoria de Arte no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, onde foi também um dos responsáveis pelo Curso Avançado de Artes Plásticas. Em 2000 foi-lhe atribuído o Prémio EDP de Desenho.

terça-feira, 1 de março de 2016

João Bénard da Costa, por Guilherme d'Oliveira Martins



UM DELEITE PARA O ESPÍRITO

Ler João Bénard da Costa é sempre um deleite. As memórias pessoais ligam-se à sensibilidade artística do maior requinte. Autores clássicos encontram-se com os pequenos segredos dos grandes pintores ou dos músicos e dos cineastas nas obras-primas que nos legaram, mas é sempre a vida que está em causa e as pessoas únicas que encontramos a cada passo, ora no dia-a-dia, ora na tela dos cinemas. O próprio João viveu uma vida mais do que dupla ou multifacetada. No cinema, encontramos a sua própria sombra, quiçá fantasmática, na figura de Duarte de Almeida. E, como diria Umberto Eco, que há pouco nos deixou, o apurado sentido histórico e a paixão pelas letras e pela literatura, pela arte e pelas imagens, pela música e pela natureza em movimento permitem viver como se se tratasse de 5 mil anos. E o certo é que nestes textos sentimos isso mesmo. Deixamo-nos entusiasmar pela fantástica maneira de nos seduzir pela forma de viver e fazer viver. O prazer habitual torna-se talvez hoje ainda mais intenso e inequívoco, uma vez que já não podemos contar com a presença física, sendo obrigados a usufruir com muito maior intensidade o que o escritor nos deixou. E o certo é que este quarto volume nos reserva momentos únicos, que correspondem ao facto de João ter-nos deixado inesperadamente numa circunstância de grande maturidade na escrita e na reflexão. Ao invocar Anna Magnani em «L’Amore» de Rossellini, o autor recorda a parte do filme em que a aparição de Fellini, numa história por este inventada, houve quem quisesse ver uma blasfémia, por haver a misteriosa aparição de alguém que é identificado com S. José e por haver uma criança que nasce em circunstâncias inusitadas… Houve acusações de invocação abusiva da Anunciação, mas Rossellini recordaria, a propósito, o sermão de S. Bernardino, de autoridade indiscutível, sobre o cão Bonino condenado pela aparência de matar uma criança que realmente salvava: «o que importa é a fé dos homens. Nada mais conta. O resto é a superficialidade dos homens». E essa superficialidade também está patente, quando continua ainda a conhecer-se mal e a esquecer-se o primeiro tradutor português das Sagradas Escrituras, João Ferreira Annes de Almeida, não reconhecendo a importância de um trabalho pioneiro como aquele que então fez e que hoje contribui para aperfeiçoarmos o diálogo no seu do cristianismo no sentido de uma melhor compreensão da importância das Escrituras, como lugar de encontro e de diálogo, nesse «estaleiro de símbolos» e «imenso dicionário», para citar Paul Claudel.

A FORÇA DO ESPÍRITO E DA AMIZADE

O conjunto das crónicas apresenta-nos um inesgotável manancial de temas e de reflexões. A lembrança da amizade entre Montaigne de La Boétie é um exemplo de uma sensibilidade culta, para quem a citação de Michel de Montaigne sobre a amizade ultrapassa em muito a invocação das palavras do autor da «Apologia de Raimond Sebond». Estamos no centro da dignidade humana e da força das relações interpessoais: «o que normalmente chamamos amigos e amizades não são mais do que hábitos ou conhecimentos provocados por aquesta ou aquela ocasião ou acaso, desses ou dessas que existem para entretenimento das nossas almas. Mas, na amizade de que eu falo, tudo se confunde e mescla numa mistura tão universal que, por completo, apaga a costura que as uniu e da qual não se observa o mais leve rasto. Quando insistem comigo para saber porque é que eu o amava (Montaigne fala de La Boétie), sinto que não o consigo exprimir senão dizendo: Porque era ele; porque era eu». A fórmula, justamente popularizada, põe a tónica na relação de amizade como um desafio pessoal, de dar e de receber – e de singularidade de proximidade. A amizade obriga a essa reciprocidade, a essa confiança, a essa troca, a essa entrega que conduz à feliz síntese que Montaigne nos apresenta, em coerência com as grandes reflexões da humanidade sobre a amizade. O texto que trata deste tema vem ilustrado com um belíssimo rosto da autoria de Roger van der Weyden – e o certo é que a crónica anda à volta do misterioso desaparecimento em Bruxelas de Beata Dubrowska. «Uma rapariga de vinte e poucos anos, se tanto, talvez a mulher mais bela que estes meus olhos viram. Era louríssima, tinha a pele branquíssima e os olhos daquela azul que só o Maître de Moulins ou Rober Campin conseguiram pintar. Uma virgem flamenga como nem mesmo esses a representaram». A crónica relata um encontro, que nada teve de alucinatório porque partilhado por outras pessoas, e um misterioso e incompreensível desaparecimento - «talvez Beata (polaca de nacionalidade) não tenha descido dos céus à terra, na sua mor beleza». Este fugaz encontro e sequente desencontro tem conhecidas referências antigas – Cícero dizia: «o amor é o desejo de alcançar a amizade de quem nos moveu pela beleza»… O espírito obriga a que as relações humanas se componham dessa gratuidade e desse fascínio… O que nos leva ao Espírito, como na belíssima crónica «Noli Me Tangere». Trata-se de um episódio perturbador, relatado por S. João sobre Maria de Magdala: «Jesus disse-lhe: “Mulher, porque choras? Quem procuras?” Julgando que Ele era o Jardineiro, ela respondeu: “Senhor, se foste tu que O levaste, diz-me onde O puseste e eu irei Busca-Lo”. Jesus disse: “Maria.” Ela reconheceu-O e disse-lhe em hebreu: “Rabuni!”, o que quer dizer Mestre. Jesus disse-lhe: “Noli me tangere (não me toques) porque ainda não subi para junto do Pai. Mas vai ter com os Irmãos e diz-lhes que eu subo para o Meu Pai e Vosso Pai, para o Meu Deus e Vosso Deus”». (Jo. VIII.20: 11-17). João Bénard da Costa, com especial agudeza de análise, lembrando que a vibração familiar do Natal foi sempre mais intensa do que na Páscoa, apesar desta representar o momento fundamental do mistério de Cristo, procura dar a chave desta disparidade, a propósito do quadro de Tiziano que representa este episódio: «Se é lícito especular sobre essa representação, o que Tiziano figurou foi um cadáver que ainda não tinha ressuscitado no esplendor da ressurreição da carne e que, por isso, não quis ser tocado na carne ainda submetida ao aguilhão da morte». Este quarto volume reúne crónicas que, para quem as leu em primeira mão, ficaram desde logo marcadas como arrebatadoras. Lembremo-nos de «Morreu-me Teresa Stich-Randall»; «Introito Ad Altare Dei»; «Setembros de Antigamente»; «Arrábida Novamente», «Um dia Claro» e «Em Esperança Salvos Somos». A cada passo encontramos o testemunho de alguém que amava as pessoas e as coisas que tocavam. Ruy Belo diria: «uma casa é a coisa mais séria da vida». Stich-Randall foi a mulher que João mais amou no mundo - «ouvi-a mil vezes e dos anjos quase sempre só a voz foi ouvida». E quanto à liturgia não terá ela introduzido uma certa banalização do sagrado? A invocação dos tempos de férias, torna, por seu lado, a nostalgia algo de reconstituinte da convivialidade. «Agosto e Setembro, na Arrábida (…) eram o que nesta terra mais se aproxima do céu»… «Quem conhece a Arrábida sabe que mais nenhuma se lhe pode assemelhar. Se nela tantas vezes me perdi, sempre foi nela que me achei. Outrora como antes, ou outrora no depois». Carl Th. Dreyer e «Ordet» («A Palavra») é especialmente lembrado pela força sobrenatural de uma obra-prima da arte europeia - «Graças a todos, vivi um dia claro. Agora, mais do que nunca, sei o que isso quer dizer»… Por fim, nesta enumeração aleatória, vem a referência a Bento XVI e à sua encíclica Spe Salvi, que permitiu uma sessão memorável no CNC - «a Esperança permanece a virtude mais misteriosa, aquela que pasma o próprio Deus, com escreveu Charles Péguy»…

Guilherme d'Oliveira Martins