sexta-feira, 22 de abril de 2016

Visão Invisível I Jean Cocteau



Visão Invisível
Jean Cocteau

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes

ISBN: 978-989-8833-05-1

Edição: Março de 2016

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 x 20,5 cm [brochado]
Número de páginas: 176


Parece-me que a invisibilidade é a condição para a elegância.

A elegância acaba se for notada.


«Tenho uma grande novidade triste a anunciar-te: estou morto. Esta manhã posso falar contigo porque estás sonolento, estás doente, tens febre. Entre nós a velocidade tem muito mais importância do que entre vós. Não falo da velocidade que se desloca de um ponto a outro, mas da velocidade que não se move, da própria velocidade. Mesmo um hélice se vê, faz reflexos; se lá pusermos a mão, corta. Nós não somos vistos, não somos ouvidos, podemos ser atravessados sem magoar. A nossa velocidade é tão forte que nos situa num ponto de silêncio e monotonia. Posso encontrar-te porque não tenho toda a minha velocidade, e porque a febre te dá uma velocidade imóvel, rara entre os vivos. Falo contigo, toco-te. É bom, o relevo! Ainda me lembro do meu relevo. Era uma água em forma de garrafa e que julgava tudo a partir dessa forma. Cada um de nós é uma garrafa que imprime forma diferente à mesma água. Agora, de volta ao lago, colaboro na sua transparência. Sou Nós. Vocês são Eu. […]» [Jean Cocteau]

Jean Cocteau [Maisons-Laffitte, 1889 – Milly-la-Forêt, 1963] foi poeta, dramaturgo, encenador, cineasta, pintor e escultor. Participou em todos os movimentos da sua época, desde os Ballets Russes ao surrealismo, de cujo grupo foi membro activo. Enveredou também pela música e escreveu libretos para obras de Stravinski, Darius Milhaud e Eric Satie. As suas relações de amizade e colaborações incluíam artistas de todas as áreas, entre eles Pablo Picasso, Modigliani, Apollinaire, Satie, Jean Anouilh, Jean Marais, Henri Bernstein e Édith Piaf. Em 1919, publicou o seu primeiro livro, Le Potomak, seguido de Thomas l’imposteur (1923), Orphée (1926), Le Livre blanc (1928), Les Enfants terribles (1929), La Voix humaine (1930), La Machine infernale (1934), Les Parents terribles (1938) e Bacchus (1951), entre romances, peças de teatro e poesia.

A Liberdade ou o Amor I Robert Desnos



A Liberdade ou o Amor
Robert Desnos

Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes
Capa de Cruzeiro Seixas

ISBN: 978-989-8833-04-4

Edição: Março de 2016

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 14,5 × 20,5 cm [brochado]
Número de páginas: 144




Onírico e surrealista. Audaciosamente erótico. Irreprimivelmente subversivo.

«A eternidade; eis o sumptuoso teatro onde a liberdade e o amor se chocam para me possuir. Por todos os lados a eternidade me rodeia como uma casca de ovo imensa; e eis que a liberdade, bela leoa, me convida a segui-la. E são caminhos de areia debaixo de um céu uniforme, grandes dunas, nuvens idênticas. Mas a liberdade, bela leoa, a seu bel-prazer se transforma. Aqui a tendes tempestade convencional sob nuvens imóveis; aqui a tendes mulher com boné frígio, viril nas tribunas da Convenção e na Esplanada dos Frades Bernardos. Mas, já mulher, ainda conseguirá ser esta maravilhosa, ser ainda esta predestinada palavra no olimpo das minhas noites, mulher flexível, e seduzida, e já o amor? O amor com os seus seios rudes e o seu colo frio. O amor com braços aprisionadores, o amor com vigílias movimentadas a dois numa cama coberta de rendas.» [Robert Desnos]

Depois de A Liberdade ou o Amor, Robert Desnos [Paris, 1900 – Teresin, 1945] teve dezoito anos de vida para se exercer como poeta de versos, jornalista, crítico literário e de cinema, vendedor imobiliário; para ser o argumentista de filmes […], para ser autor de um programa radiofónico célebre (La complainte de Fantômas), para escrever os textos líricos do filme Panurge de Michel Beruheim, a letra da cantata feita para a inauguração do Museu do Homem, com música de Darius Milhaud… Teve uma actividade intelectual intensa e ocasião para se afirmar como um dos maiores poetas da sua geração; pôde reunir os seus poemas mais significativos em dois livros, Corps et biens (1930) e Fortunes (1942) (com o longo poema Siramour onde Lisboa é cinco vezes citada); e conseguir escrever um quase-romance, Le vin est tiré…(1943), onde lamenta e comenta os malefícios da droga (Desnos foi um viciado opiómano)… Mas […] houve um fatal acidente ligado à sua corajosa militância anti-fascista.
Os artigos que assinou no jornal Aujourd’hui, odiado pela extrema-direita, e com o pseudónimo Cancale num jornal clandestino anti-alemão, marcaram-no durante a presença nazi como um alvo a abater. Foi preso em 22 de Fevereiro de 1944; deportado para Compiègne, depois para Auchwitz, Buchenwald, Flossenburg, Flöha, e finalmente para Teresin na Checoslováquia. [Aníbal Fernandes]

A Escrita do Cinema: Ensaios I Vários autores



A Escrita do Cinema: Ensaios
Vários autores

Clara Rowland e José Bértolo (org.)

ISBN: 978-989-8618-97-9

Edição: Novembro de 2015

Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros
Formato: 16 x 22 cm [brochado]
Número de páginas: 336


Os ensaios reunidos neste livro […] partem do pressuposto de que um olhar teoricamente informado sobre as relações entre escrita e cinema – e não, atente-se, sobre literatura e cinema – necessariamente conjuga a tentativa de tornar visíveis os modos de inscrição de ideias de literatura no filme (por exemplo, na representação temática de cenas de escrita ou de leitura, ou na exploração da superfície fílmica como suporte para uma inscrição gráfica) com uma atenção à escrita como parte integrante, mas não visível, do filme.
Foi este, de facto, o ponto de partida para o projecto de investigação Falso Movimento – Estudos sobre Escrita e Cinema, que desde o início de 2012 procurou construir, a partir do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, um espaço de discussão das possíveis correspondências, diferenças e espelhamentos entre cinema e escrita, que não considerasse a adaptação como canal único para pensar estas questões e que permitisse interrogar formas diferentes de sobreposição, contaminação e oposição entre ideias de literatura e ideias de cinema em jogo em meios de representação distintos. Ao longo do projecto, procurámos pensar de forma cruzada os possíveis desdobramentos do binómio escrita-cinema: considerando as formas de presença, encenação e inscrição da escrita no cinema, a partir da presença material e temática da escrita ou de figuras do literário nos filmes; as formas de escrita à volta do cinema (argumento, crítica, novelização), e os problemas teóricos que levantam; e a possibilidade de entender o próprio cinema como uma forma de escrita, quer na apropriação, por analogia, de formas, géneros e tropos literários (pense-se no filme-diário, ou no filme-carta), quer nas múltiplas derivações de uma figura como a caméra-stylo, imaginada por Alexandre Astruc. [Clara Rowland]

Ensaios de Adrian Martin, Amândio Reis, Clara Rowland, Emília Pinto de Almeida, Fernando Guerreiro, Guillaume Bourgois, Hajnal Kiraly, Joana Matos Frias, Joana Moura, José Bértolo, Luís Mendonça, Maria Filomena Molder, Mário Jorge Torres, Pedro Eiras, Rita Benis, Rosa Maria Martelo, Sonia Miceli, Susana Nascimento Duarte, Timothy Corrigan e Tom Conley.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Lagoa Henriques – Eu e a minha casa I Maria João Gamito



Lagoa Henriques – Eu e a minha casa
Maria João Gamito

ISBN: 978-989-8618-85-6

Edição: Fevereiro de 2016

Preço: 28,30 euros | PVP: 30 euros
Formato: 16,5 x 24 cm [brochado, com sobrecapa]
Número de páginas: 672


Lagoa Henriques: Eu e a minha casa é o livro que Lagoa Henriques [Lisboa, 1923-2009] não pôde acabar de escrever e se conclui agora, no compromisso entre a memória das lições de um pedagogo inesquecível e o encontro paciente com os seus programas de televisão, com a visitação da sua obra artística, com os registos do acontecer da escultura e do desenho nos segredos metamórficos do seu atelier, com as muitas palavras que disseminou por diários gráficos, cartões de convite, papéis avulso, conferências, conversas e entrevistas, em todos eles celebrando o mistério das pequenas dádivas de um quotidiano onde a morte tranquilamente se anuncia. Mas também com os sedutores enigmas da sua casa interminável e o sonho, brevemente concretizado e logo interrompido, de uma casa-museu com o seu nome.
É por isso que este livro, fundamentalmente escrito na primeira pessoa, se poderá ler como a última lição de Lagoa Henriques, livre das revisões bibliográficas e da erudição dos comentários que disciplinam a originalidade, inscrevendo-a em longas cadeias de comparadas filiações. Lição ainda, por ser, como todas as outras de Lagoa Henriques, tão inseparável de si que não seria possível abreviá-la fora dos textos e das imagens – fora da relação palavra/imagem, como ele tantas vezes a designou – que partilham o argumento único de uma vida e de uma obra na singularidade do espaço que as torna indiscerníveis.
Desaparecidos o homem e a sua casa, o livro é o modo possível de os trazer de novo à presença dos seus amigos e dos seus contemporâneos, como ele interlocutores da época histórica em que viveu, alguns deles testemunhas privilegiadas do convívio despretensioso e apaixonado com tudo o que se lhe oferecia aos sentidos e à curiosidade insaciável da sua cultura humanista, vivida e ensinada com a liberdade dos homens livres que, com as suas qualidades e os seus defeitos, são tão inteiros em tudo o que fazem que se podem dispensar a vaidade de se levarem a sério.

Maria João Gamito (Lisboa, 1956). Professora universitária, inscreve a sua actividade profissional nos domínios da Cultura Visual, da Teoria da Imagem e do Desenho.

Instalações Provisórias – Independência, autonomia, alternativa e informalidade. Artistas e exposições em Portugal no século XX I Sandra Vieira Jürgens


Instalações Provisórias – Independência, autonomia, alternativa e informalidade. Artistas e exposições em Portugal no século XX
Sandra Vieira Jürgens

ISBN: 978-989-8618-90-0

Edição: Março de 2016

Preço: 22,64 euros | PVP: 24 euros
Formato: 16 × 22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 624


Como surgiram e evoluíram os projectos expositivos independentes que, ao longo do século XX, redefiniram o conceito de arte, artista, espaço de exposição e prática curatorial?
Tendo em vista fundamentar uma perspectiva da história da arte atenta ao papel dos artistas-curadores e dos colectivos de artistas, este estudo centra-se no século XX, tomando como ponto de partida o contexto do século XIX, onde encontramos as razões e os germes do sistema alternativo que se consolidou no século seguinte e continua determinante nos dias de hoje.
INDEPENDÊNCIA artística nos séculos XIX e XX, as acções dos artistas que desafiaram o sistema académico e salonista, criando novas condições para o aparecimento de exposições privadas e independentes.
AUTONOMIA dos artistas em relação à jurisdição estatal e ao mercado de arte, com o desenvolvimento de estratégias transgressivas num sistema centrado nas figuras do galerista e do crítico de arte.
ALTERNATIVA e esferas de actuação emergentes a partir dos anos sessenta, resultado da crítica ao sistema institucional da arte, com repercussões na constituição de uma rede de espaços e estruturas colectivas.
INFORMALIDADE e projectos de colaboração de artistas-curadores, baseados em opções de autogestão, com projectos de curta duração e práticas artísticas e curatoriais com formatos de cariz experimental.
INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS revela as condições de existência da cultura alternativa, as qualidades e as características transitórias, efémeras, os processos instáveis e informais de ocupação e de instalação que caracterizam as práticas artísticas independentes.

Sandra Vieira Jürgens (Lisboa, 1969) é investigadora de pós-doutoramento, bolseira FCT no Instituto de História da Arte (IHA-FCSH, Universidade NOVA de Lisboa, Portugal), desde 2015. Professora e coordenadora da Pós-Graduação em Curadoria de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Dirige a revista online Wrong Wrong e a plataforma digital raum: residências artísticas online.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Do Negro a luz. Desenho 1986-2016 I Ilda David


Do Negro a luz. Desenho 1986-2016
Ilda David

Edição de Nuno Faria

ISBN: 978-989-8834-12-6

Edição: Março de 2016

Preço: 26,42 euros | PVP: 28 euros
Formato: 23 × 34 cm (brochado)
Número de páginas: 236 (impressas a cores)

[ Em colaboração com a Fundação Carmona e Costa ]


Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Ilda David – Do negro a luz – Desenho 1986-2016» realizada na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa, de 19 de Março a 30 de Abril de 2016 com curadoria de Nuno Faria.

«Este é um livro definitivamente sem começo e presumivelmente sem fim. Um livro que se inscreve num tempo sem tempo, numa arte sem história, que procura os filamentos de uma linhagem a perder de vista, obscura e luminosa, secreta e refulgente. É um livro com imagens em que se inscrevem palavras – das mais sábias, das mais antigas, distantes no tempo e na geografia mas nossas vizinhas, diria mesmo nossas contemporâneas. Goethe, Dante, S. João da Cruz, Llansol, Cântico dos Cânticos, Dürer, Munch, Tagore, Lawrence, Benjamin, Vigée-Lebrun. […] A história esotérica das palavras e das imagens não tem época, revela-se nos encontros, nas pausas, nos tempos mortos, nos intervalos. Antes de existirem como imagens as imagens de Ilda David formam-se a partir desses laços invisíveis, de cruzamentos, de pontos de que só ela conhece as conexões. É esse lugar, a função assignada ao desenho na economia do seu trabalho, no universo de referências que vem construindo há mais de três décadas.» [Nuno Faria]

Ilda David (n. 1955) frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, de 1976 a 1981. Vive e trabalha em Lisboa. As mais recentes exposições individuais: «Epifania da Graça» (mosaico), Catedral de Bragança, 2015: «Azul de Perdição» (pintura sobre papel), Giefarte, Lisboa, 2014; «Amor de Perdição» (pintura sobre papel), Casa de Camilo, S. Miguel de Seide, 2014; «O Quarto e o Bosque» (desenho), Giefarte, Lisboa, 2012; «Vicente» (pintura), Teatro de São João, Porto, 2009; «Cartas de São Paulo» (pintura), Seminário Conciliar de Braga, Braga, 2009; «Pentateuco» (pintura), Museu Carlos Machado, Ponta Delgada, 2007; «Ínsula» (pintura), Escola António Arroio, Lisboa, 2006; «Tábuas de Pedra» (pintura), Porta 33, Funchal, 2005; «Florestas» (desenho), Giefarte, Lisboa, 2005. Para além da pintura, tem-se dedicado também à ilustração de livros em colaboração com muitos dos melhores poetas portugueses.
Numa iniciativa de José Tolentino Mendonça, ilustrou uma nova edição, em oito volumes, da primeira tradução da Bíblia para língua portuguesa, traduzida por João Ferreira Annes d’Almeida, publicada pela Assírio & Alvim, 2006. Em 2012 ilustrou livros de Camilo Castelo Branco, Maria Velho da Costa e Manuel António Pina.

Horas Quietas I Pedro Cabrita Reis


Horas Quietas
Pedro Cabrita Reis

Edição bilingue: português-inglês

ISBN: 978-989-8834-13-3

Edição: Março de 2016

Preço: 23,58 euros | PVP: 25 euros
Formato: 17 x 22,7 cm (encadernado com tecido e sobrecapa)
Número de páginas: 80 (a cores)

[ Em colaboração com a Galeria João Esteves de Oliveira ]


Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Horas Quietas», de Pedro Cabrita Reis, realizada na Galeria João Esteves de Oliveira, em Lisboa, de 22 de Março a 6 de Maio de 2016.

«No princípio seriam uns quantos desenhos mesmo só de modelo nu, talvez mesmo só a carvão, sem disfarce da vontade de um olhar zombeteiro e de través sobre as muitas contemporâneas academias e os seus curadores sempre tão zelosos de categorias e exclusões. Mas depois e, em verdade, como sempre me interessou tão pouco aquilo que os outros dizem ou fazem, nem sequer é interessante questionar ou estar contra, e sendo assim, então a mim os meus desenhos e a cada um, eu incluído, o inferno possível. 28 desenhos feitos velozmente, sem arrependimentos ou regressos, o olhar a direito, cinco noites e um dia com mais horas do que habitualmente e Kurt Weil e também o Requiem da criança de Salzburg, morta antes do tempo, acho eu.» [Pedro Cabrita Reis]

Pedro Cabrita Reis (Lisboa, 1956) é um dos artistas portugueses mais conhecidos da actualidade. Participou em exposições internacionais de renome: entre outras, o seu trabalho foi exposto na 9.ª Documenta de Kassel e na 24.ª Bienal de São Paulo. Em 2003, representou Portugal na Bienal de Veneza. A obra de Pedro Cabrita Reis inclui uma multiplicidade de meios, dos desenhos sobre papel utilizando grafite e pastel, passando pela pintura em grande escala, até às instalações de dimensões arquitecturais. Os meios que utiliza individualmente fluem uns nos outros sem perderem o seu carácter próprio. Esculturas transformam-se em imagens. Fotografias que surgem nas instalações conseguem abrir infinitos espaços de memória e reflexão. A «natureza» aparece no seu trabalho de uma forma extremamente filtrada, como um espaço para o pensamento. A perda da natureza como ideia referencial é uma força motivadora no trabalho de Pedro Cabrita Reis. O artista vê a arquitectura como tomando o seu lugar, e percebe-a como disciplina mental ou «exercício de realidade» através do qual nos medimos a nós mesmos e ao mundo. [Galeria Miguel Nabinho]

terça-feira, 19 de abril de 2016

25 anos de desenhos I Cécile Bertrand



25 anos de desenhos
Cécile Bertrand

Textos de Alberto Mesquita, Mira Falardeau, Luc de Brabandere

Edição bilingue: português-francês

ISBN: 978-989-8834-09-6

Edição: Março de 2016

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 16 × 22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 120 (a cores)

[ Com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ]


Livro publicado por ocasião da exposição «Cécile Bertrand – 25 anos de desenhos», da artista vencedora da 17.ª edição da «Cartoon Xira’2015» e apresentada entre 12 de Março e 8 de Maio de 2016 no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira.

«Cécile nunca desenhou para ofender, nem para rir de outrem. Fê-lo para, simplesmente, rir e fazer rir. Limpa o ambiente de tensão, ao passo que a ironia o torna tenso. Não é de estranhar: a ironia desenvolve-se face a um adversário com um desígnio bem determinado, ao passo que, como observou Vladimir Jankélévitch, o humor não tem um projeto fixo, nem sistema de referência… O humor é humilde, a ironia é humilhante. Enquanto a ironia tem muita ambição, um cartoon de Cécile é despretensioso. É difícil descodificar o humor sem o perder. «Analisar o humor é como dissecar uma rã», dizia E.B. White, «não interessa muito a ninguém e a rã morre». «O humor», acrescenta ainda Jankélévitch, «não tem qualquer realeza a estabelecer, qualquer trono a recuperar, qualquer título de propriedade a reclamar, não esconde qualquer punhal escondido nas dobras da sua túnica». Sempre foi esta a posição de Cécile Bertrand. Tal como outros proferem as palavras certas, ela tem o objetivo certo. Por tudo isso, Obrigado Cécile.» [Luc de Brabandere]

Cécile Bertrand é uma das raras mulheres, senão a única, que alguma vez ocupou o lugar de caricaturista editorial num diário francófono.
Nascida em Liège, Bélgica, inicia-se na ilustração para crianças depois dos estudos em arte que fez na escola Saint-Luc. É também pintora e escultora. Desde 1981 que faz as ilustrações de numerosos livros para a juventude. Em 1989 começou uma carreira de caricaturista e adquiriu rapidamente notoriedade graças ao seu estilo característico, redondo, cheio e, ao mesmo tempo, marcado pela sensibilidade.
O seu traço simples e divertido veicula um discurso poderoso e eficaz, usando com abundância metáforas visuais, com textos curtos e incisivos.

Cartoons do ano 2015 I Vários autores


Cartoons do ano 2015
Vários autores

Textos de Alberto Mesquita, Luisa Schmidt

ISBN: 978-989-8834-10-2

Edição: Março de 2016

Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 16 × 22 cm (brochado, com badanas)
Número de páginas: 128 (a cores)

[ Em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ]


Livro publicado por ocasião da exposição «Cartoons do ano 2015», apresentada entre 12 de Março e 8 de Maio de 2016 no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira.

Os cartoonistas desta 17.ª edição da «Cartoon Xira» são António Antunes [Vila Franca de Xira, 1953], José Bandeira [Lisboa, 1962], Carlos Brito [Lisboa, 1943], André Carrilho [Amadora, 1974], Augusto Cid [Horta, Açores, 1941], Cristina Sampaio [Lisboa], Vasco Gargalo [Vila Franca de Xira, 1977], António Jorge Gonçalves [Lisboa, 1964], António Maia [Rio Maior, 1951], Henrique Monteiro [Guarda, 1969] e Rodrigo de Matos [Angola, 1975].

«2015 foi um ano de acontecimentos dramáticos. Mas no mundo dos cartoons o humor espeta fundo a farpa da sua crítica. Percorrê-los leva-nos a relembrar um ano inteiro de episódios e personagens nacionais e internacionais. Fazem rir, quando vemos a política à portuguesa, e fazem arrepios, quando pensamos nos refugiados, nos atentados, nas mortes… O traço inteligente da ilustração de humor não deixa escapar nada.» [Luisa Schmidt]

quarta-feira, 6 de abril de 2016

À pala de Camões I Pedro Mexia


Numa reedição aumentada de um volume de ensaios literários, Miguel Tamen desmonta falsas evidências e engodos sentimentais, ideológicos, metafísicos.

Uma nota de pé de página de “Artigos Portugueses” lembra o seguinte episódio contado por Wittgenstein: “Estou sentado no jardim com um filósofo; ele diz muitas vezes ‘Sei que aquilo é uma árvore’ e aponta para uma árvore próxima. Uma terceira pessoa ouve isto e eu digo-lhe: ‘O homem não está maluco. Estamos só a fazer filosofia.’” O mesmo acontece com Miguel Tamen: quando olha para um texto e diz “sei que aquilo é um texto”, não está maluco, está apenas a fazer crítica literária.
O método crítico de Tamen é, digamos, wittgensteiniano, herdeiro da tradição anglo-saxónica da filosofia analítica. Privilegia a lógica, a clareza, a comunicabilidade, mas também uma espécie de “senso comum” que é, na verdade, o oposto daquilo a que geralmente chamamos senso comum. Um senso incomum, talvez, que desmonta falsas evidências e engodos sentimentais, ideológicos, metafísicos.
Os equívocos que estes ensaios contestam são essencialmente dois. Um tem a ver com o suposto “excepcionalismo português”. O outro, com a ideia de que os poemas e os romances descrevem o mundo. Comentando “Os Lusíadas”, Tamen desconfia que o nosso épico é sobretudo “Poesia & fingimento”, como escreveu, à época, um censor benigno e perspicaz. Claro que há factos documentados, saberes de experiências feitos, uma intenção colectiva; mas o poema de Camões deve tanto às “musas” quanto à História. Quando o romantismo e depois o republicanismo inventaram um cânone nacional, ou nacionalista, Camões era o candidato ideal, oficializado em versos e estátuas e feriados. Que a gesta se prestava e ainda se presta a discursos sobre o esplendor de Portugal não há dúvida; mas isso não nos deve levar a imaginar que “Os Lusíadas” são uma “descrição do país”, o de outrora ou o de agora, muito menos uma descrição “intemporal” dos portugueses. O poema descreve, antes do mais, a cabeça, linguisticamente comunicável, de Camões, um grande poeta. E isso importa muito. Um sábio inglês avisou que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas; mas um grande poeta é um acontecimento que às vezes séculos seguidos não produzem.
Outros ensaios retomam essa tese. A “Peregrinação”, por exemplo, é lida à luz do seguinte conceito: como se reconhecem dois portugueses quando estão no estrangeiro? Fernão Mendes Pinto concebeu descrições vívidas e fantasiosas do Oriente, mas também nos deixou uma hipotética e intuitiva descrição dos portugueses expatriados no momento em que estes se encontram e reconhecem. Um reconhecimento que, note-se, não passa necessariamente pelo facto de um português (pessoa) falar português (língua). Dizer que fulano é português ou que fala português não é verdadeiramente conhecê-lo; mas a “Peregrinação” supõe um sentimento de comunidade que permite ao menos “reconhecer” um português, seja isso verdade ou não.
Esta segunda edição, modificada e aumentada, de “Artigos Portugueses” (a primeira é de 2002) reúne 14 textos desta índole, nascidos como notas de aulas ou intervenções em seminários e conferências. Cada ensaio propõe um “argumento”, global mas não-exaustivo, e defende-o com densidade, brevidade e verve. O argumento sobre as “Viagens na Minha Terra” é que se trata apenas de uma viagem à volta de um quarto e de que não há nenhuma distinção útil entre a viagem e a novela da Joaninha. O argumento sobre Cesário Verde é que a “análise” e o “real” que ele invocou são pouco fiáveis enquanto instrumentos poéticos. O argumento sobre “A Cidade e as Serras” é que não há oposição nenhuma entre serras e cidade, nem são verosímeis mudanças de personalidade motivadas por uma Arcádia de província. O argumento sobre o “Só” é que a linguagem coloquial-sentimental de António Nobre tem mais a ver com uma exasperação individual do que com uma tristeza “portuguesa”. Um dos argumentos sobre Pessoa é que a famosa “carta sobre a génese dos heterónimos” não explica a génese dos heterónimos. O argumento sobre a poesia, por intermédio de Alexandre O’Neill, é que a “Avenida da Liberdade” que aparece num poema é incomensurável com a Avenida da Liberdade que nós conhecemos e atravessamos, isto é, com “a realidade”. Em todos os casos, o mesmo cepticismo face a “descrições gerais da tribo”, essencialistas e trans-históricas, e à atribuição de um “sentido” específico, decifrável, assertivo, à literatura.
O cânone, em Miguel Tamen, é estudado em contiguidade com outros “artigos portugueses” (o sentido “de mercearia” é voluntário). Artigos como a toponímia lisboeta, um bilhete da Rainha, uma resolução do Conselho de Ministros ou a confusão entre o Conde de Valbom e o visconde de Valmor. Estratégias mais académicas, como o close reading, assumem uma feição inusitada, concentrando-se em tempos verbais como o imperfeito do conjuntivo ou em figuras de estilo como o quiasmo. E o tom faceto ajuda o argumento, não o enfraquece, poupando-nos além disso a divagações satisfeitas sobre a “narratologia” e a “alteridade”. Situado algures entre o filósofo da linguagem John Austin e a lúcida Alice de Lewis Carroll, Tamen entende os textos literários como um conjunto fascinante de “barulhos linguísticos”, objectos interpretáveis mas ambíguos, e não como avatares da língua, da pátria, da identidade ou até do sentido. Era mais que tempo.

Pedro Mexia, "À pala de Camões", Expresso, 20-III-2016