segunda-feira, 27 de março de 2017

José de Almada Negreiros: A Way of Being Modern I Mariana Pinto dos Santos (ed.)


José de Almada Negreiros: A Way of Being Modern
Mariana Pinto dos Santos (ed.)

Texts by Ana Vasconcelos, Carlos Bártolo, Fernando Cabral Martins, Gustavo Rubim, Luís Trindade, Mariana Pinto dos Santos, Marta Soares, Sara Afonso Ferreira, Tiago Baptista, 
Luis Manuel Gaspar (chronology).

ISBN: 978-989-8834-55-3 

Edição em inglês

Edição: Fevereiro de 2017
Preço: 42,45 euros | PVP: 45 euros
Formato: 24 x29 cm [brochado]
Número de páginas: 424


[Em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian]

This book was published on the occasion of the exhibition “José de Almada Negreiros: A Way of Being Modern”, curated by Mariana Pinto dos Santos and shown at the Calouste Gulbenkian Foundation in Lisbon, from February 3 to June 5 1917.

Considering the modern as a form of historical time, and its critical character, the modernisms were different ways of understanding the modern, and the new. In the conference he delivered in Madrid in 1927, “O Desenho” [Drawing], focusing on his solo exhibition organised by La Gaceta Literaria […], Almada states: “To be modern is just like being elegant: it is not a way of dressing, but a way of being. To be modern is not to use the modern calligraphy, but to be the genuine discoverer of the new.” While the modern may be seen by some as the adoption of a certain style, a certain fashion, Almada defines it rather as a way of being, which involves not only embracing the present time, but also acting upon it, not the adherence to the modern, but the act of making it happen. This concept of modernism as action that generates modernity is closely related to the idea of avant-garde. [Mariana Pinto dos Santos]

José de Almada Negreiros (São Tomé and Príncipe, 1893 – Lisbon, 1970) was a multifaceted artist mainly dedicated to visual arts (drawing, painting, etc.) and writing (novels, poetry, essay, playwriting), occupying a central position in the first generation of modernist artists. He had an especially active role in the first modernist avant-garde, with an important contribution to Orpheu magazine’s group dynamics. A controversial figure, his action was essential in the futurist movement in Portugal. His public intervention and work continued through several decades. He was in Paris, even though for a short period, and lived many years in Madrid before his return to Portugal.

Void* – Volumes I, II e III Júlio Pomar e Julião Sarmento



Void* – Volumes I, II e III

Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Alexandre Pomar e Pedro Faro

ISBN: 978-989-8834-59-1 

Edição português-inglês

Edição: Março de 2017
Preço: 33,02 euros | PVP: 35 euros
Formato: 17x21 cm [brochados]

Caixa com os 3 volumes VOID*

[Em colaboração com o Atelier-Museu Júlio Pomar]


Caixa que reúne os três catálogos publicados por ocasião da exposição Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento no Atelier-Museu Júlio Pomar, de 28 de Outubro de 2016 a 12 de Março de 2017.




Void* – Volume I – Júlio Pomar e Julião Sarmento
Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro
Formato: 17x21 cm [brochado] | Número de páginas: 136


Void* – Volume II – Julião Sarmento
Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro
Formato: 17x21 cm [brochado] | Número de páginas: 152


Void* – Volume III – Júlio Pomar
Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Pomar
Formato: 17x21 cm [brochado] | Número de páginas: 112

Void* – Volume I Júlio Pomar e Julião Sarmento


Void* – Volume I

Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro

ISBN: 978-989-8834-57-7 

Edição português-inglês

Edição: Março de 2017
Preço: 14,15 euros | PVP: 15 euros
Formato: 17x21 cm [brochado]
Número de páginas: 136


[Em colaboração com o Atelier-Museu Júlio Pomar]


Catálogo publicado por ocasião da exposição Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento no Atelier-Museu Júlio Pomar, de 28 de Outubro de 2016 a 12 de Março de 2017.

A exposição Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento é pensada, desde a sua génese, como uma intervenção específica no espaço do Atelier-Museu, onde Júlio Pomar e Julião Sarmento, através de pinturas e desenhos, exploram o conceito de void – termo inglês que pode ser entendido como um espaço vazio ou esvaziado; algo que desaparece no espaço; que é vivido como perda ou privação; uma lacuna ou abertura.
Dada a pluralidade de sentidos que o conceito admite, poderia dizer-se que a exposição Void* materializa – paradoxalmente – um vácuo centrífugo, procurando subtrair o espectador das habituais associações com que geralmente é defrontado numa exposição, inserindo-o antes numa formulação ambígua, necessária à concretização do facto estético.
[…] Julião Sarmento mostra uma série de obras sobre tela e sobre papel – registos ou inscrições do trabalho no seu atelier –, com variadas referências literárias, sem qualquer figuração. Júlio Pomar mostra uma série de obras, pinturas e desenhos, realizadas, sobretudo, na década de 1960, por exemplo pinturas sobre o metro de Paris, lutas de corpos, entre outras obras mais e menos abstractas, desenhos do natural, ilustrações para livros e projectos para pinturas – obras que, na exposição, se valorizaram pelas suas componentes e intensidades formais ou compositivas. [Pedro Faro]

Void* – Volume II Julião Sarmento


Void* – Volume II

Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro

ISBN: 978-989-8834-56-0 

Edição português-inglês

Edição: Março de 2017
Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 17x21 cm [brochado]
Número de páginas: 152

[Em colaboração com o Atelier-Museu Júlio Pomar]



Catálogo publicado por ocasião da exposição Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento no Atelier-Museu Júlio Pomar, de 28 de Outubro de 2016 a 12 de Março de 2017.

As obras de Sarmento, vazias de figuras objectivas, traduzem e resultam das marcas e movimentos de um corpo, que é no fundo o seu. As telas e os suportes em papel são assim uma espécie de superfícies de registo, do que o seu corpo viveu, uma espécie de continuação da pele do artista que parece ter sido virada do avesso, mostrando as marcas internas do corpo. [Sara Antónia Matos]

Julião Sarmento [Lisboa, 1948], artista plástico, é autor de uma obra multifacetada, tendo iniciado actividade nos anos 1970, enquadrando-se nas práticas artísticas mais avançadas desse período. Na década seguinte iria afirmar-se como um dos artistas plásticos portugueses com maior projecção nacional e internacional, expondo em galerias e museus de grande prestígio.

Void* – Volume III Júlio Pomar


Void* – Volume III

Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Pomar

ISBN: 978-989-8834-58-4 

Edição português-inglês

Edição: Março de 2017
Preço: 9,52 euros | PVP: 10 euros
Formato: 17x21 cm [brochado]
Número de páginas: 112

[Em colaboração com o Atelier-Museu Júlio Pomar]



Terceira secção do catálogo Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento, publicado por ocasião da exposição que juntou os dois artistas no Atelier-Museu Júlio Pomar, entre 29 de Outubro de 2016 e 12 de Março de 2017, este volume apresenta um extenso conjunto de fotografias a preto-e-branco que mostram obras datadas da segunda metade da década de 1960, quase todas captadas em 1968 (antes ou depois de Maio), no atelier do pintor em Paris.
As imagens que aqui se publicam, com a permissão do artista, disponibilizadas pela Fundação Júlio Pomar especialmente para esta edição, revelam obras em execução ou deixadas inacabadas e outras talvez dadas por concluídas, mas todas igualmente destruídas. As imagens permitem dar a conhecer, por um lado, o cenário privado da residência e atelier do pintor – instalado em 1963 em Paris, na Rue Molitor, n.º 39, XVIe Arrondissement – e, por outro, documentam uma produção datável de 1964 a 1968 com a qual Júlio Pomar deixou então de se identificar e que por isso destruiu, num momento de mudança de processos de trabalho e também de temáticas.
O pendor abstracto das obras que são aqui pela primeira vez apresentadas parece acompanhar uma saturação face às séries e aos meios formais que o pintor vinha a desenvolver anteriormente, num «realismo» de cunho eminentemente gestual, com movimentos amplos e pinceladas livres, sempre com origem na observação directa das cenas e dos espaços. Trata-se de um período de experiências e inovações temáticas, que incluiu o bem-sucedido ciclo das corridas de cavalos, Les Courses, mas também de um tempo de exaustão e de incerteza, a que não terá sido indiferente a instalação no meio francês. [Sara Antónia Matos e Alexandre Pomar]

Júlio Pomar [Lisboa, 1926] vive e trabalha em Paris e Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto.
No início da sua carreira, foi um dos animadores do movimento neo-realista, desenvolvendo uma larga intervenção crítica em jornais e revistas. Tem-se dedicado especialmente à pintura, mas realizou igualmente trabalhos de desenho, gravura, escultura e «assemblage», ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo. Foram-lhe atribuídos vários prémios, nomeadamente o Prémio de Gravura (exaequo) na sua I Exposição de Artes Plásticas, em 1957, o 1.º Prémio de Pintura (exaequo) na II Exposição de Artes Plásticas, em 1961, o Prémio Montaigne em 1993, o Prémio AICA-SEC em 1995, o Prémio Celpa / Vieira da Silva, em 2000, e em 2003 o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso. Além de diversos textos publicados em revistas e catálogos, sobre outros artistas e sobre a sua própria obra, Pomar é autor de livros de ensaios sobre pintura.

Desordem Vertical I Pedro Casqueiro


Desordem Vertical

ISBN: 978-989-8834-63-8

Edição: Março de 2017
Preço: 12,26 euros | PVP: 13 euros
Formato: 14,5x20,5 cm [brochado]
Número de páginas: 80


[Em colaboração com a Galeria Ala da Frente]



Livro publicado por ocasião da exposição Pedro Casqueiro – Desordem Vertical, com curadoria de António Gonçalves, realizada na Galeria Ala da Frente, em Vila Nova de Famalicão, de 4 de Março a 27 de Maio de 2017.

O que torna a obra de Pedro Casqueiro um exemplo excepcional de vitalidade é a sua capacidade de sabotar, desviar e subverter tudo o que seriam as expectativas habituais, os efeitos previsíveis, o espectáculo gratuito ou as seduções superficiais inerentes aos materiais com que trabalha. O processo de despistagem da vulgaridade é obtido através da procura sistemática do acontecimento mínimo — a inversão de uma regra de contiguidade cromática, uma linha oblíqua, uma sobreposição desfocada — mais susceptível de produzir a perplexidade máxima. Ou seja, a regra do equilíbrio mais difícil: aquele que se experimenta sensivelmente como irresistível e incorrigível desacerto, apaixonante contrabando do ritmo perfeito. [Alexandre Melo in Pedro Casqueiro, Assírio & Alvim, 2002]

Pedro Casqueiro nasceu em Lisboa, em 1959. Frequentou a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, tendo-lhe sido atribuído o Prémio Revelação de Desenho na II Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira (1980). Vive e trabalha em Lisboa.

Deita-te, levanta-te e agora deita-te I Maria Capelo


Deita-te, levanta-te e agora deita-te

Textos de Nuno Faria e João Pinharanda

português-inglês

ISBN: 978-989-8834-60-7

Edição: Março de 2017 
Preço: 18,87 euros | PVP: 20 euros
Formato: 21x26 cm [encadernado com tecido]
Número de páginas: 134 pp. a 4 cores (livro) + 32 pp. (folheto)

[Em colaboração com a Fundação Carmona e Costa]



Este livro foi publicado por ocasião da exposição Deita-te, levanta-te e agora deita-te, de Maria Capelo, realizada na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de Nuno Faria, entre 08-02-2017 e 18-03-2017.

Haverá uma disciplina oriental do fazer e do ver nestas sucessivas coreografias da mão e do olho. Mas há também uma angústia ocidental no pensar o que se faz e o que se quer fazer: ao procurar obsessivamente o espaço e o tempo perdidos, ao procurá-los, através de numerosas soluções, noutros lugares e noutros tempos, Maria Capelo não recupera nem salva a pureza original desse tempo ou desse lugar, antes faz com que os seus fantasmas comuniquem com os dos outros tempos e lugares invadindo a sua memória e intimidade, e assombrando-as. [João Pinharanda]

quinta-feira, 23 de março de 2017

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terça-feira, 21 de março de 2017

Liberdade, Poesia, Amor




Ouvimos esta voz com o poema que nos traz e não sabemos se é a voz que diz o poema ou se é o poema que diz a voz. Esta coincidência do dizer e do dito, do som e do sentido, do corpo e do espírito, da poesia e da vida, do dia e da noite foi sempre o sinal de Mário Cesariny.
Já Breton escrevera: «Tudo leva a crer que existe um certo ponto do espírito donde a vida e a morte, o real e o imaginário, o passado e o futuro, o comunicável e o incomunicável, o que está em cima e o que está em baixo deixam de ser apercebidos contraditoriamente». Cesariny afirmava: «O único fim que eu persigo / é a fusão rebelde dos contrários».
É por isso que estamos aqui: não apenas para cumprir um acto de homenagem civil e cultural, mas acreditando que Cesariny reconhecia neste lugar onde a sua luz encontra a sua sombra, um sentido sagrado, dando a esta palavra a fundura mais funda e a liberdade mais livre. A morte é o que resta do sagrado e mesmo isso está a desaparecer, afirmava ele. E, às vezes, falava do osso sacro como de um segredo que é preciso guardar.
Cesariny era distante de tudo o que é oficial, convencional e vazio, mas aceitava os ritos que protegem os mitos. Foi assim que aceitou a Ordem da Liberdade, que lhe foi entregue em sua casa, numa tarde em que tudo se calava para o ouvir. Ele recebeu a Grã-Cruz, beijou-a e gritou: «A Santa Liberdade!». A liberdade era a sua medida desmedida, o rosto do seu rosto.
Nessa tarde, recordei uma outra tarde passada com Jorge Luis Borges, que acabava de receber a Ordem de Sant’Iago da Espada, que a sua cegueira o impedia de ver. Ele pediu-nos para lhe descrevermos as cores e as figuras do colar. A seguir, num gesto que foi repetindo, levou a mão ao frio do metal, exclamando: «Sant’Iago! Sant’Iago!» Falámos então daquela passagem de São Paulo que diz «Agora, vemos como num espelho, mas um dia veremos face a face». Borges falava e a nossa visão era o rascunho da sua cegueira. 
Sabemos que esta homenagem nunca conseguirá oficializar, normalizar, naturalizar, neutralizar Cesariny. Ao contrário, e por contraste, torna ainda mais nítido e invencível o seu escárnio selvagem, a fúria firme e feroz, o desassombro ímpio.
A sua vida foi vivida em nome da Liberdade, da Poesia e do Amor, de que os surrealistas fizeram a nova trilogia, juntando ao «transformar o mundo» o «mudar a vida». Em cada dia e em cada passo dele havia uma grande razão, aquela que num poema reclamava: «Falta por aqui uma grande razão / uma razão que não seja só uma palavra / ou um coração/ ou um meneio de cabeças após o regozijo / ou um risco na mão…» Cesariny procurava o ouro do tempo.
Agora, lembro. O Mário fala de Pascoaes, o velho da montanha, e conta o momento sagrado em que o conheceu. Fala de Lautréamont e de Rimbaud com palavras lentas e acesas. Fala de Artaud e a sua cara coincide com a dele. Já na rua, passa a velha que apanha o que encontra e ele faz-lhe perguntas que guiam respostas assombradas. O Mário ri e diz: «É a Vieira da Silva!» Agora, estamos nos Açores e ele toca piano, enquanto, da janela, vemos o mar erguer-se como no Moby-Dick, esse livro mágico e trágico, que lia e voltava a ler.
Estar com Cesariny era partir numa nave espacial e olhar cá para baixo com os olhos muito abertos. Havia nas suas mãos um fogo que, quando queimava, mostrava a tragédia, e, quando iluminava, fazia aparecer a comédia. Esse sentimento trágico e cómico da vida é o dos visionários do visível. Ele confessou um dia: «Para mim, só o momento da criação é linguagem, tudo o mais é baço, não diz, pertence ao sono das espécies, mesmo quando dormem inteligentemente.» Mas em todos os momentos dele havia criação. Nunca o ouvi dizer lugares-comuns, ideias mortas, frases feitas.
Na sua poesia, as palavras têm a exactidão cortante da ponta do diamante sobre o vidro, a velocidade densa dos grandes êxodos, o brilho obscuro dos olhos no amor. Na sua pintura, as cores levam o braço até à proximidade do mar e as formas são as do vento a abrir o portão do castelo.
Cesariny gostava de anarquistas, videntes, xamãs, usurpadores, hereges, piratas, incendiários e revoltosos. E de reis destronados, deuses abolidos, bruxas acossadas, fidalgos arruinados, heróis vencidos, náufragos salvos no último momento. Detestava tiranos, tiranetes, moralistas, hierarcas, burocratas, preopinantes, instalados, acomodados, calculistas, carreiristas, conformistas, cínicos, convencidos, contentinhos, coitadinhos.
Desses, ria com um riso que era sal insolúvel e tinha a grandeza escura da tempestade no Verão. O país dos risinhos, das piadinhas, das gracinhas, e das graçolas, não aguentava um riso tão livre: enorme e desassombrado. Não suportava esse riso cheio de amargura e desdém, de raiva e protesto. Nesse riso, passavam o riso antigo de Rabelais e o riso moderno de Artaud, o riso dos funâmbulos e das feiticeiras.
Num país em que o medo gerava cobardia e obediência, do medo dele nasciam coragem, insubmissão, subversão. No fim, estava ainda mais desencontrado com aquilo com que sempre se desencontrou: a vida pequenina, a vidinha de que falava o seu amigo Alexandre O’ Neill. E agora («O tecto está baixo», avisava-nos ele) só se fala da vidinha - e só a vidinha fala.
Afinal, é preciso repetir a pergunta de Hölderlin: «Para quê os poetas em tempos de indigência?» Afinal, é preciso repetir a resposta de Hölderlin: «O que permanece os poetas o fundam». E a resposta de Cesariny: «A palavra poética é a palavra verdadeira. É a única que diz.» Então, os poetas, se os houver, são para dizer o que ninguém diz, mesmo que ninguém oiça. Mas nesse dizer que ninguém ouve salva-se a honra de um tempo em que tudo se perde.
De Mário Cesariny, não basta afirmar que a sua poesia é das maiores do nosso século XX. Nem que a sua pintura é das mais originais desse tempo. É preciso reafirmar que, nele, pessoa, vida, morte, obra, atitude, ímpeto tinham a força que nos atira para um abismo de claridade.
Nestes 10 anos da sua morte, ouvir a voz de Cesariny é olhar o céu naquele momento em que o sol ainda não partiu e a lua já chegou.

José Manuel dos Santos
Tributo a Mário Cesariny, Cemitério dos Prazeres, Lisboa 8 de Dezembro de 2016


Fotografia: Túmulo de Mário Cesariny (pormenor), Cemitério dos Prazeres, Lisboa

segunda-feira, 20 de março de 2017

Mário Cesariny no Centro Cultural de Belém

                                                                                                                                 Fotografia de Susana Paiva

Tributo a Mário Cesariny nos 10 anos da sua morte
Centro Cultural de Belém - Sábado, 25 de Março de 2017 
ENTRADA LIVRE


14h-19h I Poema Colagem – Homenagem a Mário Cesariny. Vídeo-instalação (curta-metragem de 16’). Foyer Almada Negreiros.

14h30 I Casa Pia de Lisboa evoca Mário Cesariny. Alunos da Casa Pia de Lisboa lêem a poesia de Mário Cesariny e executam peças de Ravel, G. Händel e J.S. Bach. Sala Sophia de Mello Breyner Andresen.

15h I Maratona de leitura. Mário Cesariny dito por diferentes personalidades. Sala Fernando Pessoa.

15h30 I Conversa sobre Mário Cesariny. Com José Manuel dos Santos, João Soares, Ilda David, Manuel Rosa e Elísio Summavielle (Presidente do CCB). Sala Luís de Freitas Branco.

17h-18h30Autografia. Documentário sobre Mário Cesariny realizado por Miguel Gonçalves Mendes (90’). Sala Luís de Freitas Branco.

18hOrquestra Sinfónica Juvenil – Tributo a Mário Cesariny. Neste concerto ouve-se a música de que Cesariny gostava: a abertura de Tristão e Isolda, de Wagner, Concerto para Piano e Orquestra de Grieg, Valsas de Erik Satie. Em estreia mundial uma composição de Christopher Bochmann, feita a partir de versos de Cesariny. Direcção de Christopher Bochmann. Grande Auditório.


A exposição 
continua patente, até 16 de Abril de 2017, no Centro de Congressos e Reuniões, no Piso 1
Segunda a Sexta | 10:00 às 20:00 I Sábado, Domingo e feriados | 10:00 às 18:00
ENTRADA LIVRE